Como ocorrem os treinos classificatórios das 500 milhas de Indianápolis de 2020?

As 500 milhas de Indianápolis esse ano está ocorrendo de uma forma atípica, e os treinos classificatórios, que são um show a parte do evento também ocorrerão. Veja como vai acontecer tanto os treinos de sábado quanto os de domingo na 104ª 500 milhas de Indianápolis.

Nesse ano não teremos pilotos eliminados, mas ainda teremos emoção.

Tirando a corrida em si, os treinos classificatórios são as atividades que mais atraem a atenção no grande evento das 500 milhas de Indianápolis. E, assim como o evento como um todo, os treinos classificatórios estão um pouco menos atrativos do que no ano passado, isso porque, ao contrário do visto em 2018 e 2019, todos os 33 carros inscritos nas 500 milhas de Indianápolis desse ano estão garantidos no grid. 

Antigamente, mesmo que houvessem apenas 33 carros inscritos na prova havia a chance de algum carro não se classificar pois era obrigatório todos os 33 carros classificados fazerem ao menos uma tentativa nos treinos classificatórios e ter um tempo válido, por mais lento que fosse. Essa regra foi modificada, e não é mais necessário completar ao menos uma tentativa, com os carros se classificando para a prova automaticamente.

Daí você pode pensar: "então qual o motivo de se esforçar tanto na qualificação?" Bem, por duas grandes razões que movem as disputas automobilísticas: mostrar que é melhor que os seus concorrentes e dinheiro. As premiações apenas para a qualificação das 500 milhas de Indianápolis chegará a 150 mil dólares no total, além do pole receber todas as atenções durante uma semana inteira, até o domingo da prova propriamente dita.

Indianápolis tem uma forma muito estranha de estimular os pilotos: os três últimos colocados recebem, respectivamente, apenas 31, 32 e 33 centavos de premiação.

Mas então vamos contar como acontecem esses treinos. Eles são divididos em dois dias, uma parte no sábado e outra no domingo. Os horários estão todos aqui.

 Sábado

No primeiro deles, no sábado, os pilotos disputam para ficar entre os nove primeiros, que disputarão a pole no segundo, no chamado Fast Nine. Do 10º ao 33º ficam com suas posições já definidas para o dia 23 de agosto, data da prova.

Esse dia de treinos classificatórios tem no total CINCO HORAS E CINQUENTA MINUTOS. um a um seguindo uma ordem que foi sorteada na sexta, logo após o fim do treino livre de sexta-feira. Durante as qualificações, os pilotos podem usar dois carros diferentes, um principal e um reserva (marcado com um T ao lado do número), em caso de problemas ou opção da equipe. Depois, no fim do treino de sábado, apenas a tentativa do melhor carro de cada piloto permanece, e ele não poderá usar um segundo carro pelo resto do evento.

Assim, quando chegar a vez do piloto, ele tem a opção de ir a pista e fazer sua tentativa ou não ir a pista e pular sua vez. Muitas vezes os carros ainda estão sendo aprontados para a qualificação ou a equipe pensa que aquele não é o momento certo para ir pra pista (por estar muito quente ou ventando muito) e pula sua vez, economizando pneus. O sorteio nesse momento é crucial, pois pode te presentear com uma pista em condições perfeitas de vento e temperatura ou simplesmente te atrapalhar tanto que você é obrigado a pular a sua vez para não gastar pneus à toa. Importante salientar que os resultados de sábado se tornam oficiais a partir do momento que todos os carros foram chamados para entrar na pista e, assim, tiveram pelo menos uma chance de ir a pista para fazer tentativas de qualificação.

Depois que todos os 33 carros foram chamados segundo a ordem de sorteio, cada um pode ir novamente a pista ou não. Caso optem, eles tem de entrar em um sistema de fila, que determinará quem terá o direito de ir a pista tentar se classificar naquele momento.

As filas de classificação: Lane 1 à direita e Lane 2 à esquerda.

Para isso, são feitas duas filas: uma normal (chamada de Lane 1) e uma preferencial (chamada de Lane 2). Os pilotos da linha preferencial tem vantagem sobre os pilotos da fila normal, já que quem está na fila normal só pode ir a pista se não houver ninguém na fila preferencial.

No entanto, entrar na fila preferencial tem uma consequência pesada: quando você entra na fila preferencial, você passa a não ter tempo nenhum, pois são todos apagados; assim, caso você entre na fila preferencial e faça um tempo pior do que tinha anteriormente, esse será seu novo tempo. Os pilotos da linha normal devem esperar os pilotos da fila preferencial terminarem suas tentativas, mas os tempos que eles obtiveram até aquele momento da classificação não são apagados e, caso eles errem e façam um tempo pior que o anterior, o melhor tempo é levado em consideração para a classificação.

Essas duas filas são o principal fator, fazendo com que mesmo carros que sejam bons mas erraram em sua primeira tentativa e tenham que fazer melhores tempos acabem caindo. Se você for para a fila preferencial tem o óbvio risco do tudo ou nada, mas se você realmente fizer um tempo melhor, principalmente no fim do treino, ela é a melhor opção, pois a fila normal costuma ser muito ocupada porque quase todos os pilotos querem fazer novas tentativas mas não querem perder os tempos que obtiveram. Muitos dizem que uma das principais causas de James Hinchcliffe ser desclassificado e não correr as 500 milhas de 2018 foi pela demora da Schmidt-Peterson em colocar o canadense na fila preferencial e ele fazer apenas duas tentativas durante o treino todo.

Pois bem, quando atingimos o horário das cinco horas da tarde locais, seis horas no horário de Brasília, ouve-se o tiro de encerramento (sim, o sinal de fim do treino é um dos diretores de prova que sobe ao pódio do Indianápolis Motor Speedway e dá um tiro pro alto, explico o porque disso depois), são definidos os nove pilotos que vão para o Fast Nine.

Domingo

No domingo teremos realmente a disputa pela pole das 500 milhas de Indianápolis. Cada um dos nove pilotos classificados no sábado tem apenas uma tentativa de quatro voltas para fazer seu melhor resultado e conseguir o prêmio maior da pole. 

A ordem de entrada na pista é definida de acordo com o treino classificatório de sábado, onde o carro com o nono melhor tempo no sábado vai a pista primeiro, depois o oitavo, sétimo e assim por diante até que todos vão à pista. 

Ao contrário dos treinos de sábado os pilotos não tem a opção de desistir de sua tentativa para fazê-la mais tarde, sendo que a decisão de qualquer adiamento ou cancelamento fica a cargo da direção de prova. Caso o treino seja adiado e retomado posteriormente, a classificação continua a partir do piloto onde se parou o primeiro treino. Nos casos extremos de ser impossível continuar o Fast Nine mesmo em outro dia (lembrando que há o espaço de sete dias entre o Fast Nine e a corrida, proporcionando uma grande janela para realocar eventos adiados) a pole é definida pelos tempos do primeiro treino classificatório, e o piloto mais rápido do sábado se tornaria o pole das 500 milhas de Indianápolis.

Sage Karam recebendo a bandeirada do diretor de prova (acima) e, na mureta, de Robbie Buhl, um dos sócios da Dreyer & Reinbold Racing

Agora sim, vamos comentar sobre como ocorrem essas tentativas, pois até isso é um ritual à parte.

Quando um piloto está em sua vez e é liberado para ir para a pista (seja por ser sua vez no sorteio ou sua vez na fila), ele tem o direito de fazer duas voltas de aquecimento (podendo ser três caso a direção de prova escolha assim), e quatro voltas em velocidade total.

A primeira dessas voltas de aquecimento é usada para aceleração, onde o piloto passa a volta toda acelerando até atingir a velocidade de cerca de 220 mph na reta principal; a segunda volta de aquecimento é usada para que o piloto possa perceber as condições da pista, a aderência das curvas e, principalmente, a direção do vento e como isso afeta o carro. A terceira volta de aquecimento normalmente é usada a pedido dos pilotos para a direção de prova, em casos que a mudança climática é muito grande, como no fim ou na chegada de uma chuva ou num aumento muito grande de temperatura ou velocidade do vento.

Depois das duas (ou três) voltas de aquecimento, o diretor de prova balança a bandeira verde e a tentativa começa a valer. O piloto ou a equipe pode abortar a tentativa até a passagem do piloto para fazer a terceira volta e, para sinalizar que o piloto/equipe abortaram a tentativa, um membro da equipe (geralmente o dono ou o engenheiro principal do carro) que, durante toda a tentativa de seu piloto fica no muro da reta principal, próximo a torre de tempos, agita a bandeira amarela, e o piloto pode abortar sua tentativa indo para os boxes naquela volta.

Caso o piloto não aborte, ele recebe a bandeira branca do diretor de prova para sinalizar quando é sua última volta da tentativa e também recebe a bandeira quadriculada, assinalando o fim de sua tentativa. Depois disso ele deve voltar para os boxes imediatamente com o carro o mais próximo da linha de dentro possível, a fim de não atrapalhar o próximo piloto a fazer sua tentativa.

O resultado da tentativa é dado pela média dos tempos das quatro voltas dadas pelo piloto, e esse resultado é utilizado para classificar ou não o piloto na tabela de tempos, e isso compõe uma tentativa de classificação para as 500 milhas de Indianápolis, tanto no sábado quanto no domingo.

Ah sim, a questão do tiro. Além do teor tradicional que o tiro carrega desde o início do século passado, quando eram dados tiros tanto para marcar a largada quanto para marcar a chegada das primeiras corridas americanas, tem como motivo usar um sinal único para não confundir todos que assistem. A bandeira quadriculada é agitada um monte de vezes durante os treinos e, uma agitação a mais ou a menos ninguém nota e, se apenas agitassem a bandeira quadriculada para marcar o fim do treino, é capaz ue muita gente não percebesse que o treino acabou.

Assim, quando se ouvir um tiro durante as 500 milhas, já sabe que o treino acabou.

Bem, é isso. Caso haja mais alguma dúvida basta colocar nos comentários, seja aqui, no facebook ou no twitter, que a gente pesquisa e traz a resposta o mais breve possível.

Vale Ressaltar que o IndyCarCast fará ao vivo a cobertura dos treinos tanto de sábado quanto de domingo. Caso queira acompanhar, basta fazer que nem nós e seguir eles no YouTube. Até mais!!