O desfecho da Honda Indy Edmonton de 2010 é um dos episódios mais lembrados da Indy pós reunificação: onde uma punição por blocking e um Hélio Castroneves furioso com a direção de prova marcaram a história do pacato circuito canadense.
A prova em Edmonton seguia comum e calma como sempre: Hélio Castroneves estava na ponta da prova depois de se aproveitar de retardatários e ultrapassar Will Power algumas voltas antes da última bandeira amarela da corrida. A relargada aconteceu a três voltas do fim, com o brasileiro se mantendo na linha mais externa e Power tentando mergulhar por fora. O movimento do australiano não deu certo, onde ele espalhou e caiu para o terceiro lugar, com dixon em segundo e Hélio ainda na liderança.
Uma volta depois, a direção de prova comunicava que Hélio Castroneves recebeu um drive thru por blocking. Helinho não cumpriu a punição e teve vinte segundos acrescidos no tempo final, caindo para o décimo lugar e sagrando Dixon como o vencedor da prova. Castroneves ficou lívido, esbravejando com a direção de prova e com Brian Barnhart.
Toda essa confusão foi originada pela regra de blocking. No automobilismo tradicional de monopostos, o modo de saber se uma disputa de posição é legal ou não é bem simples: o piloto pode se mover apenas uma vez na disputa, e outra vez para fazer a tangência da curva, além disso o piloto não pode impedir completamente a passagem do carro de trás, sendo obrigado a deixar pelo menos um carro de espaço para passagem (daí vem o nome da regra de blocking, bloquear a passagem).
Na Indy logo após a cisão as coisas não eram bem assim. Isso porque na IRL, até o ano da reunificação (2008), não havia uma regra de blocking e os diretores de prova simplesmente analisavam caso a caso e decidiam se tal movimento foi legal ou ilegal, geralmente levando em consideração a regra tradicional do blocking. Assim, quando houve a reunificação com a Champ Car, a IRL simplesmente importou a regra dela.
A regra na Champ Car é bem similar mas ao invés do piloto da frente poder se mover até deixar um carro de espaço, ele podia se movimentar apenas até uma certa linha que dividia a pista. Na maioria dos casos essa linha era justamente a metade da pista ou apenas um carro mesmo por dentro, como se fosse na regra tradicional. Mas nos circuitos de rua mais travados como Toronto e San Jose, a Champ Car chegou a literalmente desenhar linhas que deixavam claro o quanto o piloto poderia se mexer, favorecendo a passagens dos pilotos de trás nesses.
Isso tudo (tirando as linhas) foi aplicado nos circuitos mistos da IRL. Apesar da regra restritiva, ela foi aplicada apenas uma vez em 2008, justamente contra Castroneves na penúltima etapa do campeonato em Detroit, quando o brasileiro vinha na liderança e bloqueou Justin Wilson. O brasileiro cedeu a sua posição como punição e terminou em segundo, perdendo pontos importantes na disputa pelo campeonato e terminando aquele ano com o vice-campeonato.
Podemos ver que Helinho permanece quase o tempo todo na linha mais interna da reta principal, se movendo um bocado para fazer a tangência da curva um, onde esse movimento é permitido até um certo ponto. A questão é: até onde vai esse ponto?
Essa decisão caía no colo de Brian Barnhart. O diretor de provas e competição da IRL na ocasião e que, desde quando entrou nessa posição, endureceu as punições, fazendo com que pilotos pagassem drive thru ou fossem para o fim do grid em relargadas nos casos de contato evitável, blocking e até mesmo por passar em cima de equipamento durante o pit stop.
A rigidez de Barnhart fez com que um movimento onde tanto a equipe de transmissão da prova quanto os fãs e alguns pilotos da categoria não viram problema algum e se surpreenderam com a punição de drive thru, gerando um dos maiores “rages” filmados em uma transmissão da Indy. Helinho também foi multado em 60 mil dólares e foi colocado sob advertência por todo o ano de 2010. Ele chegou a pedir desculpas pelo mau comportamento no dia seguinte a prova, mas nunca considerou a decisão como justa.
Já Barnhart considera até hoje a decisão mais correta a se tomar nesse tipo de caso. Ele mesmo considerava que a devolução de posição injusta pois, segundo ele, “na regra antiga ele teria apenas de devolver as posições e a punição não teria peso, Castroneves quebraria as regras e ainda permaneceria em segundo ou terceiro…”.
Alguns pilotos, principalmente os diretamente envolvidos em toda a ação em Edmonton, como Dixon, Power e Franchitti, também consideraram toda a ação da direção de prova como correta argumentando que a regra foi ressaltada várias vezes durante a reunião dos pilotos no fim de semana, mas concordavam que a decisão do drive thru era bem pesada. Helinho também não vinha em uma fase tão boa assim onde, de meados de 2010 até o início de 2011, o brasileiro se envolvia em vários toques, o que acabou pesando para que alguns fossem contra ele na história.
No fim, uma regra atípica em conjunto de uma situação no limite do permitido e um diretor de prova consideravelmente rígido acabou proporcionando uma das poucas vezes que vimos Hélio Castroneves fora de si.
Com o passar do tempo, tanto a regra de blocking quanto Brian Barnhart foram substituídos. O diretor de competições da Indy acabou sendo trocado no fim da temporada seguinte, onde muitos pilotos e equipes reclamavam das atitudes inconsistentes (as vezes muito rígidas, as vezes muito tolerante). A regra de blocking foi modificada no fim daquela temporada mesmo, para o seu tradicional sentido genérico e vago: os pilotos não devem alterar sua linha de corrida em reação ou para impedir a passagem de outros pilotos.
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