Pode parecer que a moça não fez muita coisa pela Indy mas, em retrospecto, muita coisa mudou na categoria americana de monopostos graças a seus feitos.
Danica Patrick anunciou recentemente que, no ano que vem, quando completará 36 anos, se aposentará do automobilismo. A americana pilotou pela Indy de 2005 a 2011, migrou para a NASCAR e esteve lá até esse ano, quando seu acordo com a Stewar-Haas terminou. Danica anunciou que correrá apenas a Daytona 500 e a Indy 500 de 2018, e se aposentará das pistas.
Danica entrou no automobilismo americano aos 20 anos, quando foi trazida de volta pela Rahal Letterman Racing. Subiu a ""Road to Indy"" da época, passando pela Barber Dodge Pro Series em 2002 e pela Atlantic Series em 2003-04, já que a Indy Lights ainda vivia momentos incertos na mão da IRL. No ano seguinte, em 2005, Danica já estreava pela RLR na IRL.
Até meados do século XXI, as mulheres tinham um papel bem diferente no automobilismo amlericano. Pilotos femininos eram vistos como curiosidade e até reverência por alguns, mas na hora de se discutir favoritos pela vitória raramente eram cogitadas.
Antigamente, mulheres, como Desire Wilson, eram vistas como artigos de curiosidade, e não de habilidade. |
Na Indy, antes de Danica, tivemos a presença de Janet Gruthie e Desire Wilson nos anos 70 e início dos anos 80. Aqueles eram anos extremamente complicados para mulheres correrem, pois a abertura recente de Indianápolis para a presença delas (profissionais mulheres, como jornalistas, repórteres, mecânica e pilotos) era vetada até 1971 e a presença delas, mesmo de mulheres de pilotos, ainda não era bem vista. Ambas estiveram em algumas etapas do certame por vários anos, mas nunca conseguiram brigar diretamente por vitórias: os melhores resultados de Gruthie vieram em 79, quando ela finalmente conseguiu um chassi Lola para correr, enquanto Wilson conseguiu apenas um Top 10 e nunca se classificou para Indianápolis.
Mais de dez anos depois, veio Lyn St. James. A americana era chama de 'A dama dos Endurances' deciciu correr na CART em 1992 aos 45 anos de idade e, correndo pela Dick Simon, não conseguiu fazer tanta coisa nas doze provas que fez parte nos últimos quatro anos de CART pré-cisão. St. James também fez parte dos primeiros anos da IRL, mas nunca fez uma temporada completa e seu melhor resultado sendo na primeira corrida da IRL: um oitavo lugar.
Antes da virada do século, muitos discutiam se (e muitos afirmavam que) mulheres não tinham habilidades o suficiente para correr em monopostos. As poucos tentativas de mulheres conseguirem correr na CART e IRL até aquele momento dividiam muito as opiniões sobre a presença da mulher no automobilismo de monopostos e fazendo com que algumas pilotos tivessem dificuldades a mais na hora de disputar as categorias de base da Indy.
Até aparecer Sarah Fisher e mudar um pouco a história. |
As coisas começaram a se modificar na virada do século, com a entrada de Sarah Fisher para o mundo dos monopostos. Sarah saiu dos midgets e entrou para a IRL ainda aos 19 anos, sendo a pessoa mais jovem a correr na categoria e, em 2000, entrou na Walker trazendo vários patrocínios e exposição para a categoria durante a temporada. Durante sua carreira, principalmente na Walker (2000-01) e no primeiro ano de Dreyer & Reinbold (2002), conseguiu bons resultados esporádicos e até dirigiu uma McLaren no treino de sexta no GP dos Eua de F1 em 2002, mas o resultado no fim da temporada não impressionava a todos, com resultados bastatne irregulares. Apesar dos esforços feitos por Fisher e por quem a cercava, a visão de mulheres nos monopostos passou de 'itens curiosos que dirigem carros' para 'pilotos que nunca passarão da barreira do meio/fundo de grid'.
Pilotos mulheres que nunca passarão da barreira do meio/fundo de grid era a expectativa para Danica, e ela superou em muito essa expectativa. Em seu primeiro ano brilhou, principalmente, nas 500 milhas de Indianápolis, quando fez a volta mais rápida dos testes e fez o quarto lugar no grid, liderou algumas voltas e, mesmo rodando sozinha em uma bandeira amarela e deixando o motor morrer em uma das paradas, terminou a corrida em quarto, sendo a melhor estreante na Indy 500 e na temporada 2005 da Indy; no ano seguinte foi ainda melhor e conseguiu ser a melhor piloto da Rahal Letterman no ano, aprendendo que a regularidade era a chave do sucesso na IRL; em 2007 se mudou para a Andretti e se tornou presença constante entre os cinco primeiros nas corridas até 2009, quando atingiu seu auge no quinto lugar do campoenato, o melhor carro fora da Penske e Ganassi no ano.
Mas é fácil apontar Danica como a mulher que teve maior sucesso no automobilismo americano. |
Entretanto, com o aumento de mistos - calcanhar de Aquiles da moça - e a perda do patrocínio da Motorola, Danica começou a correr alguns eventos na NASCAR Nationwide enquanto fazia a temporada completa da Indy e, aos poucos, foi migrando para o mundo da NASCAR. Em 2010 e 2011, Danica continuava completando todas as provas que disputava, batendo o recorde de 50 corridas sem abandono, e terminando os campeonatos entre os dez primeiros.
A visão de mulher na Indy mudou drasticamente no período em que Danica Patrick esteve correndo. Pela primeira vez viu-se uma mulher se dar bem em uma temporada, correr muito bem na Indy 500, conseguir estar entre os cinco primeiros regularmente, completar todas as provas de uma temporada e vencer; pela primeira vez, viu-se uma mulher fazer tudo o que um homem de regular sucesso deve fazer na Indy.
Para muitos a dúvida finalmente cessou: mulheres tem as mesmas capacidades ou capacidades muito comparáveis com a dos homens quando o quesito é automobilismo de monopostos; e que a escassez de mulheres se dando bem no automobilismo se dá, principalmente, por uma questão de proporção: assim como em outras áreas, existem mais homens que mulheres se dando bem porque existem mais homens que mulheres tentando se dar bem.
Claro que essa conclusão não foi (nem é) unânime e até diminuiram os feitos de Danica, afinal é fácil andar bem com o pouco peso da moça ou com o apoio generoso da Rahal Letterman, da Andretti e da mídia. Entretanto, o pouco peso de Sato não foi apontado como principal razão do japonês ter ganho as 500 milhas de Indianápolis desse ano, nem alegou-se que o bom desempenho de Fernando Alonso na mesma prova veio do apoio de Andretti ou da mídia. Ações como essa acabam fazendo a vida das mulheres pilotos mais difícil, enchendo de incertezas o futuro e a confiança delas, o que acaba desestimulando a entrada de mais pilotos mulheres e a chance de uma piloto mulher brilhar no automobilismo fica cada vez menor.
O caso foi diferente entre 2005 e 2013, onde, graças ao relativo sucesso de Fisher e Patrick, tivemos um boom de mulheres piloto vindo para a Indy. Mas parece que essa fase vem diminuindo cada vez mais, e o grid da Indy conta, atualmente, apenas com as aparições esporádicas de Pippa Mann nos ovais pela Dale Coyne.
O ano que teve mais mulheres no Road to Indy dessa década: três mulheres em 2014. |
Pois agora sabemos, graças a Danica, que elas podem.
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