Robby McGehee foi o primeiro
piloto a “estrear” o recurso, pioneiro na absorção e redução de impactos em
acidentes contra muros, durante os treinos da Indy 500 de 2002.
Acidente de McGehee durante os treinos da Indy 500 de 2002. (Foto: IndyCar) |
Na última sexta-feira (5), a
INDYCAR, órgão que sanciona e regulamenta o campeonato da Indy e o Indianapolis
Motor Speedway (IMS), comemoraram os 15 anos do Safer Barrier, uma espécie de
muro composto por aço e espuma, desenvolvido como uma alternativa, para absorver
e reduzir em até 75% o impacto dos carros contra a parede de concreto sólido,
em casos de acidente.
Mas é um aniversário que o
americano Robby McGehee prefere não se lembrar muito. Ele foi o primeiro piloto
que, neste dia, em 2002, “estreou” a parede “macia”, então recém instalada nas
quatro curvas e em alguns pontos estratégicos na parte interna da pista do IMS.
Mesmo com o impacto absorvido pelo Safer Barrier, McGehee quebrou algumas
vértebras de suas costas, além da perna esquerda, terminando assim o sonho de
disputar as 500 milhas daquele ano.
No primeiro dia de treinos, McGehee
perdeu o controle de seu carro #10 da Cahill Racing (imagem), após o pneu
traseiro esquerdo perder pressão e estourar. O carro rodou e bateu com tudo na então
nova barreira de proteção, na curva 3. O americano acredita que as lesões
poderiam ser muito mais graves, caso o Safer Barrier não estivesse ali.
“A primeira lembrança que eu tenho
é a pura dor que eu senti imediatamente após a batida”, disse McGehee. “O que a
torna inesquecível, pois eu estive acordado durante todo o momento, para sentir
essa dor. Eu fui para o muro com uma velocidade de 218 mph, se o Safer Barrier
não estivesse lá, eu provavelmente não me manteria acordado após o acidente e,
quando isso acontece, há um risco significativo de lesão cerebral”. Comentou o
piloto.
“Eu ainda tenho a imagem do carro
em chamas, ao meu lado, após a pancada inicial. Eu assisto o acidente de vez em
quando e penso: ‘Meu Deus, estou feliz por estar vivo’”. Relatou o americano,
hoje com 43 anos e pai de trigêmeos de 8 anos.
Após o sucesso da implementação
do Safer Barrier na Indy 500 de 2002, cada oval utilizado pela IndyCar, pela extinta
CART e pela NASCAR, passaram a utilizar a alternativa para reduzir os impactos
em acidentes contra a parede e, de acordo com o Dr. Dean Sicking, inventor do
projeto, salvou várias vidas.
“Não houve uma fatalidade por
causa do contato com o Safer Barrier nesses 15 anos”, disse o Dr. Dean Sicking,
que liderou uma equipe de engenheiros da Universidade de Nebraska, onde o
projeto foi desenvolvido. O trabalho começou em 1998 e contou com o envolvimento
e recursos financeiros significativos da INDYCAR e, a partir de 2001 - após a
morte de Dale Earnhardt Sr. na Daytona 500 do mesmo ano -, da NASCAR.
“Nossa meta era reduzir o risco
de lesões em 50%”, disse Sicking, que agora trabalha em pesquisas semelhantes relacionadas
ao impacto na Universidade do Alabama, em Birmingham. “O que fomos capazes de
mostrar é que conseguimos reduzir o risco real de lesões graves em até 75%”.
Completou o engenheiro.
Desde que o Safer Barrier foi
instalado em todos os ovais dos EUA, a maioria dos acidentes da IndyCar
registraram forças G entre 60 e 65, é o que afirma Jeff Horton, diretor de
engenharia e segurança da INDYCAR.
“A maior coisa que me lembro que
o Safer Barrier nos trouxe foi a imensa redução das forças G nos acidentes. Eu
uso sempre o IMS como parâmetro, porque lá é o lugar onde acontece os impactos
mais duros. Lembrem-se que, as pancadas na parede de concreto ultrapassavam os
100 Gs, no início dos anos 90.
Sicking e sua equipe aprenderam
muito com o acidente de McGehee em 2002, o que levou ao desenvolvimento de uma
segunda versão do Safer Barrier, no final do ano seguinte. Testes antes do
primeiro impacto real não levaram em consideração o possível esvaziamento, ou
ausência parcial ou completa dos pneus antes do carro sofrer o grande impacto,
resultando assim no contato mais baixo na barreira do que Sicking e sua equipe
haviam antecipado. “O pneu traseiro esquerdo de McGehee perdeu pressão e o carro
começou a rodar e os demais pneus se soltaram antes do carro bater na barreira”,
disse Sicking.
“Nós tínhamos preparado o Safer
Barrier para ser atingido pela parte de trás do carro da Indy, mas achávamos que
os pneus ainda estariam ali, ou ainda estariam com pressão. Quando voltamos e olhamos
todos os acidentes, na maioria das vezes os pneus saíam dos carros antes do
impacto com a parede”.
O Safer Barrier original tinha um
tubo de aço inferior mais alto. Quando o carro de McGehee bateu, a caixa de
câmbio perfurou o tubo inferior da barreira. A segunda versão apresenta cinco
tubos de aço de igual dimensão, além dos blocos de espuma que são moldados de
forma diferente da barreira original. Sicking diz que a barreira é projetada de
modo que as soldas entre os tubos de aço não se quebrem nem sob forças G
excessivas, proporcionando mais confiabilidade à barreira.
A primeira versão tinha tubos de tamanhos diferentes. (Foto: IndyCar) |
Essa segunda versão permanece
como o padrão em superspeedways até os dias de hoje.
“O Safer Barrier se provou”,
disse Horton. “Em minha mente, houve duas mudanças significativas em segurança.
Uma delas é o Safer Barrier, a outra é o HANS Device (proteção que fica
acoplada entre o capacete e a nuca do piloto e que fica presa no carro, de modo
a evitar que o piloto vá para frente e sofra desaceleração abrupta, ou bata o
capacete no volante, em casos de acidente). Essas mudanças resultaram em uma
redução de 40% em Gs em um lugar como o IMS”. Complementou Jeff Horton.
O acidente de James Hinchcliffe,
durante os treinos para a Indy 500 de 2015, foi o mais duro desde que o Safer
Barrier foi instalado: cerca de 125 Gs. Hinchcliffe sofreu uma lesão crítica
quando um braço da suspensão de seu carro perfurou a célula de sobrevivência e
entrou em sua perna, chegando até o seu quadril. O piloto perdeu muito sangue,
mas sobreviveu. Apesar do resgate rápido do Holmatro Safety Team, o piloto
perdeu o restante daquela temporada para se recuperar do grande trauma.
Horton disse que a IndyCar está
envolvida em uma ‘join venture’ com a Universidade de Nebraska e a NASCAR em
procurar maneiras de garantir que o Safer Barrier permaneça tão eficaz do que quando
foi instalado, há 15 anos. “Não houve muita conversa sobre
um novo design”, disse. “Os principais tópicos são sobre a longevidade
da espuma e tudo o mais. Agora que as paredes envelheceram, nós estamos nos
certificando que elas não perderam rendimento baseado nisso”. Relatou.
À medida que esse processo se
desenvolve, o Safer Barrier continuará a amortecer pancadas fortes, diminuir
lesões e salvar vidas. McGehee, primeiro piloto à bater na barreira, permanece
grato 15 anos depois.
Robby McGehee correu na Indy entre 99 e 04. (Foto: IndyCar) |
“Eu adoraria ser lembrado por ter
sido o calouro da edição de 1999 da Indy 500”, disse ele. “Mas daqui 100 anos,
a única coisa que vão se lembrar quando ouvirem meu nome é de que fui o
primeiro a testar essa tecnologia, que provavelmente ainda estará no lugar.
Sinto-me abençoado por ter vivido, corrido e feito o que fiz. Eu nunca venci na
Indy, mas cheguei perto várias vezes, mas sou feliz, hoje tenho trigêmeos de
oito anos e uma linda esposa”. Relatou McGehee.
Fonte: indycar.com
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