A Indy 500 mais esperada dos últimos três ou
quatro anos foi vencida por um americano estreante. Pena que esse americano
estreante é Alexander Rossi. Ou não.
Bug no cérebro. |
Nesse ano, Tony, Newgarden e Hinchcliffe
estavam na frente na volta 163, até todos nós ficarmos extremamente surpresos
por Takuma Sato bater. Houve aquele ritual de todos pararem na volta 164 e, no
fim da volta 166, todos largarem sem saber se tem ou não etanol 85% para chegar
ao final. Drama de combustível.
No fim, apenas três pilotos conseguiram seguir
na prova sem parar. Will Power e Charlie Kimball estavam em carros que voavam,
mas tinham que andar muito lentamente para economizar e fazer o milagre do
combustível. Eles acabaram se perdendo e ficaram para o meio do pelotão.
Alexander Rossi venceu.
A cara do Muñoz não entendendo o que o Rossi fez. |
Como isso é possível? Simples, corrida de
computador.
Com tantos treinos, cada equipe sabe o quanto
cada carro gasta em cada trecho da pista. Vendo as condições na telemetria da
Andretti, Bryan Herta, o estrategista do carro #98 de Rossi, comandava quanto,
como e onde o estreante americano poderia acelerar seu carro rumo à vitória.
Todos (computador, telemetria, Herta e Rossi) fizeram um trabalho, desde a
coleta de dados (estar numa equipe com cinco carros ajuda) até a dosagem da
velocidade no pé fizeram a vitória vir, com uma margem de erro de duas curvas,
pois na saída da curva três ele já não tinha combustível, mas foi o suficiente
para ele se sagrar vencedor da 100ª Indy 500.
Contando desse jeito parece nada milagroso e
uma vitória sem esforço, mas foi exatamente o contrário. Rossi, Herta e a
Andretti como um todo tiveram que trabalhar muito para conhecer o máximo
possível do carro e realizar o milagre. É um feito extraordinário que levou-os
a ficar na frente de várias figuras carimbadíssimas por aí.
Mesmo sem glamour, uma vitória de um americano
em uma equipe americana e sendo estreante é algo digno de história e euforia
por parte dos yankees. O maior problema foi que quem venceu foi Alexander
Rossi.
Síntese do Rossi pré Indy 500: moldando o banco da Indy com o uniforme da Marussia. |
O único que resultou numa história meio
estranha por ter uma história pregressa negativa foi Alexander Rossi.
Rossi fez toda sua carreira com um único foco:
a F1. Desde 2009, um ano depois de conquistar a F-BMW americana, rumou sua
carreira para o outro lado do Atlântico e lá se apaixonou pelos carros que
gritam com o RPM mais alto. Fez todo o caminho que é mandatório para um piloto
chegar até a categoria máxima do automobilismo euro-asiático, até chegar a
pilotar em uma equipe de fundo de grid por cinco provas no ano passado. Quando
conquistou o vice-campeonato da GP2 e viu que as portas estavam todas fechadas,
foi obrigado a dar uma pausa em seu sonho de F1, e um quarto ano de GP2,
principalmente quando já se foi vice-campeão, fica meio estranho. Ele teve de
mudar de ares.
Por todo esse tempo, Rossi foi sondado por
equipes pequenas e médias da Indy. Desde 2013 o piloto manteve algumas
conversas sérias, mas sem grande desenvolvimento devido a um ponto
característico da Indy: os ovais. Esse tipo de circuito está diretamente
intrínseco à Indy, e que afastava Rossi de qualquer envolvimento maior com a
categoria, e gerava declarações como essas:
Para mim, como piloto, não sou interessado [na Indy] apenas por causa dos ovais. Se o momento da Indy fosse para a volta dos circuitos mistos eu a consideraria como opção, mas enquanto os ovais fizerem parte significativa do certame eu não estou interessado.
Para mim, o risco [de se correr em ovais] é muito alto. Não sei se no passado os acidentes aconteciam com maior frequência e mais pessoas se feriam e faziam com que os espectadores fossem mais acostumados a ver essas cenas. Mas, hoje em dia, esses acidentes são um grande choque para todos, e creio que essa é a razão pela qual a Indy não é interessante e se torna pouco popular.
Não a acompanho desde a cisão, mas creio que a Indy é um campeonato muito competitivo e muito difícil de ser campeão. Mas creio que eles passaram do limite e creio que isso é bom pra F1, pois a Indy não é popular e as pessoas buscam por outras categorias melhores no que se trata de monopostos.
Essas declarações vieram em agosto de 2013,
quando o campeonato da Indy ia chegando ao fim e os rumores de Rossi voltar
para casa de vez aumentaram, mas o piloto afirmava mais do que categoricamente
que não iria desistir de seu sonho de guiar na F1.
E, dois anos e meio depois das suas declarações
polêmicas, ele ganha a Indy 500.
Dois anos depois delas, ele adentrava no mundo
da Indy, quer dizer... mais ou menos.
Parece cara de focado, mas é cara de esfinge. |
Em St. Petersburg, quando perguntado do que
sentia e o que esperava do fim de semana de estreia, ele apenas dizia que
"Sinceramente, não sei o que esperar de tudo isso. Treinei incessantemente
durante a pré-temporada, mas não faço ideia do que esperar".
Aos poucos, ele parecia mais aberto ao mundo da
Indy, como nos testes em Phoenix, onde alegou achar a experiência de dirigir em
um oval interessante e excitante. Nos circuitos mistos seguintes se declarava
cada vez mais acostumado com a categoria e até brincou que "achava que os
pilotos aqui passavam do limite, mas descobri que passar do limite pode ser bem
mais divertido".
Hoje em dia ele já parece estar bem ambientado
na categoria, mas a desconfiança de que ele, a qualquer momento, abandona tudo
para """correr""" na Manor ou em qualquer outra
coisa da F1 sempre fica no ar.
Sempre ficar meio aqui meio lá, ter desdenhado
completamente a categoria e utilizá-la apenas como último recurso para não se
aposentar aos 25 anos não ajudavam na popularidade do americano. Isso, junto ao
fato do piloto pouco demonstrar suas emoções a não ser com palavras que os novatos treinam tanto nas categorias de base (também
conhecido como cara de cu esfinge) fizeram sua caveira com uma boa parte dos
Indyanistas.
Duas grandes características desses torcedores
são: a memória infinita para aqueles que destratam a categoria e a grande
emotividade dos amantes da categoria. Isso faz com que, a não ser que o piloto
faça algo extraordinário e mude completamente de comportamento, uma grande
parte da torcida da Indy simplesmente o odeie, não importando o que ele faça. Parece
completamente injusto, preconceituoso e algo que demoraria muitos anos, mas
assim que as coisas meio que são.
E daí esse piloto "único" vence a
corrida mais importante desde 2012, deixando esse gosto estranho na boca, como
se tivéssemos colocado adoçante demais no café.
Alexander Rossi, em conjunto com sua equipe, fez algo extraordinário e deixou sua marca na categoria. Agora resta saber se ele também deixará sua marca entre os fãs da categoria também.
Alexander Rossi, em conjunto com sua equipe, fez algo extraordinário e deixou sua marca na categoria. Agora resta saber se ele também deixará sua marca entre os fãs da categoria também.
Nenhum comentário:
Postar um comentário