Olá, minha gente! Eu sou Filipe Dutra e vamos dar sequência
à série “500 do Brasil”, sobre os vencedores brasileiros de Indianápolis. O
capítulo de hoje fala sobre um que demorou para conquistar a vitória no
Brickyard, mas nem por isso teve sua qualidade questionada: Gil de Ferran.
O que nem todo mundo sabe é que Gil possui nacionalidade
dupla – ele é filho de pai francês -, e chegou a correr como francês em seu
início de carreira. Entretanto, foram as cores verde e amarela que ele adotaria
para sempre, e foi nosso país que o acolheu e torceu para ele.
De Ferran foi um dos primeiros a pular das categorias de
base europeia diretamente para a IndyCar, fazendo sua estreia em 1995 pela
Hall, com o famoso esquema de cores da Pennzoil. Um ano antes, fizera um teste
pela Footwork na categoria principal da
Europa, sendo preterido – para nossa felicidade.
Gil na vitória em Cleveland, 1996 (Foto: Peter Burke) |
Lembramos a você que 1995 foi o último ano da IndyCar como
conhecemos, una, santa e sensacional. Portanto, demorou bastante para o brasileiro
ter uma nova chance de visitar Indianápolis novamente – e a estreia não foi
boa, tendo ele terminado em 29º. Ainda assim, o ano foi bom o suficiente para
ele ter sido o rookie of the year, o
novato do ano, com uma vitória em Laguna Seca.
Em 1996, ainda pela Hall e já pela CART (Fórmula Mundial por
aqui), o brasileiro conseguiu mais uma vitória, em Cleveland. Ele terminaria o
campeonato em sexto.
De 1997 a 1999, com o fim da Hall, De Ferran foi para a
Walker, de patrocínio da Valvoline, e viveu anos magros de vitórias, embora
bons no geral – foi vice-campeão em 1997, apenas uma vitória em Portland
(1999), e totalizou seis pódiuns e quatro poles no período. Foi o suficiente
para Roger Penske chamá-lo para sua equipe, que também vivia uma maré de azar.
De casa nova (Foto: Peter Burke) |
E Gil chegou chegando na equipe do Capitão. Foi campeão da
CART logo no ano de estreia e repetiu a dose em 2001. Neste mesmo 2001, foi
segundo nas 500 Milhas de Indianápolis, cuja história já contamos, assim como
também foi dito que a equipe migrou para a IRL no ano seguinte.
Pois bem, chegamos a 2003, e Roger Penske estava gostando da
ideia de ter vencido as duas Indy 500 desde que voltou. Nas provas anteriores a
Indianápolis, Gil vinha ido bem, mas acabou batendo em Phoenix e, por conta de
um ferimento, deixou de disputar a etapa seguinte, em Motegi – a prova japonesa
também migrou da CART para a IRL. Coube a Alex Barron pilotar o Dallara #6.
Falando em Japão, a IRL estava sendo dominada pelos
nipônicos. Não no quesito piloto, mas no quesito motor: Toyota e Honda passaram para a categoria de Tony George e,
com a saída da Infiniti (leia-se Nissan), haviam três fornecedoras de
propulsores na categoria – a americana Chevrolet permaneceria ainda por aquele
ano.
Mudanças também nos chassis: tanto os Panos G-Force quanto
os Dallara mudaram de modelos. E, como curiosidade, Gil adotou ambos na mesma
temporada, sendo os G-Force usados em Indianápolis, uma das provas do Texas e
Fontana e os Dallara no resto.
O G-Force Toyota campeão |
Enfim, vamos falar do que interessa: maio. Pela primeira
vez, uma categoria de base também correria em Indianápolis, a Infiniti Pro
Series (hoje Indy Lights), fundando a primeira Freedom 100. Se você não conhece
a categoria, é aquela onde isto ocorreu:
Enfim, falando da categoria principal, o qualify não foi nada bom para Gil de
Ferran, com ele conseguindo marcar apenas média de 228,6 mph (367 km/h),
largando em 10º. Pior ainda se considerarmos que seu companheiro de equipe,
Helio Castroneves, conseguiu a pole, com 231,7 mph (quase 372 km/h).
Tony Kanaan foi o segundo, mas quase que ele não consegue
largar, e isso teve um impacto forte no automobilismo. Explico: devido a um
acidente no braço em Motegi, sua equipe, a Andretti-Green, ficou preocupada de
garantir um lugar pra ele entre os 33. E ninguém menos que Mario Andretti foi
cogitado para qualificar o carro do TK, mesmo nove anos após ter se aposentado.
Porém, ele acabou pegando detritos do carro de Kenny Brack e seu bólido
decolou, acertando a grade de proteção. Mesmo sem danos sérios, o velho Mario
decidiu ficar na tranquilidade de sua aposentadoria mesmo.
Chegou o dia 25 de maio de 2003, e, após o agito da bandeira
verde, Castroneves pulou para a frente até a volta 17, quando, em uma série de
amarelas, Scott Dixon o ultrapassou nos boxes. Na 32, foi a vez de Michael
Andretti assumir a ponta. Ele, porém, faria jus à maldição da família e
abandonaria na volta 98. Kanaan, Castroneves e Tomas Scheckter revezariam a
ponta durante a primeira metade da prova.
Na segunda parte, Airton Daré bateu o carro e causou
amarela. Nos boxes, Gil de Ferran alcançou a terceira posição e passou
Scheckter na relargada, pela volta 135. Aí virou um duelo caseiro: Helinho
lutava pela terceira vitória seguida, enquanto Gil queria sua primeira.
Aí, pela volta 169, o Penske #3 de Helio dava uma volta em
A. J. Foyt IV quando acabou se enroscando e perdendo tempo. Foi a oportunidade
que Gil de Ferran queria para assumir a ponta e, daí, não perder mais. Um dia
feliz para o Brasil: com Tony Kanaan em terceiro, teria pódio brasileiro em
Indianápolis – se Indianápolis tivesse pódio.
Essa edição das 500 Milhas foi bem controversa: pela
primeira vez desde os anos 70, não teve lotação total no Indianapolis Motor
Speedway. E pela primeira vez desde os anos 40, houve a possibilidade de não se
completar um grid de 33 carros. Com a mudança de chassis e motores, houve bem
menos equipes com condições de alinhar carros, e o Bump Day era mais tenso pela
chance de termos o grid completo do que propriamente saber quem ficaria de
fora. Foi quando Vitor Meira alinhou um carro da Menard é que todos respiraram
aliviados.
É isso, minha gente. Depois tem mais. Abraços!
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