Olá, minha gente! Estamos de volta para mais um capítulo da
série “500 do Brasil”, falando sobre os campeões do maior espetáculo do
automobilismo. Hoje, o assunto é o bicampeonato de Emerson Fittipaldi na Indy
500 de 1993.
Para muitos, essa garrafa não foi "delícia" |
A IndyCar que adentrava aquele ano era bem diferente daquela
que o brasileiro viu ao pisar definitivamente em solo americano. Seu título na
categoria fez com que mais pilotos estrangeiros olhassem os carros de Indiana
com carinho – eles já haviam chegado durante os anos 80, mas, até então, eram
todos “refugos” de categorias europeias. Mas nenhum deles teve maior
importância que o inglês Nigel Mansell.
O Leão chegava com status de atual campeão mundial, tendo
conquistado um merecido título na Williams conhecida pela famosa citação de
Ayrton Senna, “um carro de outro planeta”. Tendo Sir Frank uma incorrigível
fama de intransigente nas negociações com pilotos, o inglês não pensou duas
vezes e cruzou o Atlântico para pegar uma vaga na Newman-Haas, substituindo
Michael Andretti, que fez o caminho inverso e foi ser companheiro de Senna na
McLaren.
Nigel entre seus novos chefes (Foto: Jeremy Shaw) |
De fato, logo em sua primeira prova, em Surfer’s Paradise
(Austrália), Nigel venceu e mostrou que não seria coadjuvante na Indy. Porém
não foi em Phoenix, na segunda rodada da temporada, que o inglês faria sua
estreia em ovais: ele bateu seu Lola forte durante os treinos e não se
classificou para a prova, vencida pelo companheiro de equipe, Mario Andretti.
Daí chegou o mês de maio e todos os olhos do mundo,
naturalmente, estavam voltados para o Red 5 patrocinado pela rede de
supermercados Kmart e a petrolífera Texaco. Porém, por conta de uma cirurgia
nas costas decorrente do acidente em Phoenix, ele perdeu o Rookie Orientation
Program (aquele teste para novatos em ovais, antes de Indianapolis). Porém, por
conta de sua experiência comprovada nas pistas – e porque seria feio o atual
campeão mundial da outra categoria não
participar da Indy 500, a USAC o autorizou a pular o programa, indo direto para
os dias de classificação.
Detalhe: em nenhum dos dias de treinos, Fittipaldi teve a
ponta.
No Pole Day, outro momento especial. A. J. Foyt, após ver
seu companheiro de equipe (e empregado) Robby Gordon bater na saída da curva 1,
decidiu que esse negócio de ser piloto e dono de equipe ao mesmo tempo não dava
certo e deu sua última volta antes da aposentadoria – algo bem no estilo do
Super Tex.
No mais, Emerson Fittipaldi e Nigel Mansell, como esperado, não tiveram dificuldades para se classificar. Eles, inclusive, largariam um do lado do outro, na terceira fila: o inglês sairia em oitavo e o brasileiro em nono. Destaques para dois brasileiros: Raul Boesel, que estava em terceiro, e Nelson Piquet, que largou em 13º após ter sofrido um grave acidente em Indianápolis no ano anterior.
Então, no dia 30 de maio de 1993, teve início a 77ª edição
das 500 Milhas de Indianapolis. Boesel e Arie Luyendyk dividiram a ponta até a
primeira rodada de pit-stops, que iniciou na volta 16, após a primeira bandeira
amarela da prova. Daí o brasileiro recebeu uma bandeira preta e perdeu as
chances de ganhar.
Com Boesel fora do páreo, a briga agora estava entre o
holandês e Mario Andretti, com Fittipaldi observando de perto. Até que Nigel
Mansell brotou e foi escalando a liderança, quase obtendo-a na volta 56 – foi
impedido porque teve que parar. No pit-stop seguinte, lá pela volta 90, o Leão
aprontou das suas: ele passou direto da sua área de parada, teve seu carro
empurrado de volta e perdeu um bom tempo, voltando em sexto.
Os três protagonistas da 77th Indy 500 (Arte: Gavin McLeod) |
Em seguida, a prova teve uma série de bandeiras amarelas
seguidas, causadas por acidentes (claro que Paul Tracy esteve envolvido) e
quebras mecânicas. Nas 50 voltas finais, a batalha pela vitória estava entre
Mansell, Fittipaldi e Luyendyk. Mas a inexperiência do inglês em ovais fez a
diferença: em uma relargada, o Leão não acelerou o suficiente e os outros dois
o passaram sem dó. Ele deixaria a briga definitivamente na volta 192, após dar
uma lambida no muro da curva dois. Foi o que o brasileiro queria: com um carro
mais equilibrado, ele só precisou administrar a vantagem até receber a bandeira
quadriculada.
Na comemoração, Emerson teve uma atitude que, até hoje, é
bastante controversa entre os fãs da Indy, principalmente os americanos.
Bem, todos sabemos que as 500 Milhas de Indianápolis são
todas baseadas na tradição, desde a pista de tijolos até as cerimônias pré e
pós-corrida. Uma delas, como também sabemos, é a de o vencedor tomar uma
garrafa de leite. Isso veio nos anos 30, quando o piloto Louis Meyer pediu uma
garrafa de leite de manteiga após vencer sua terceira Indy 500. Ele havia feito
isso em todas suas conquistas anteriores, mas foi nesta terceira que os
produtores de leite de Indiana viram a chance de divulgar seu produto mundo
afora, e, desde então, passaram a fornecer garrafas de leite ao vencedor da
prova. Tirando um período entre 1947 e 1955, todos que venciam a Indy 500
tomaram leite.
Exceto Emerson.
Foi uma surpresa geral quando ele recusou a garrafa de leite
e portou outra, com um líquido amarelo. Era suco de laranja. O brasileiro, dono
de uma plantação da fruta na Flórida, queria, assim como os fazendeiros de
Indiana, divulgar seu negócio. Mas a ação não foi bem vista, mesmo ele, minutos
depois, ter aceitado a garrafa de leite e bebido um gole dela.
Porém, a História estava feita.
Outra curiosidade é que, como vocês perceberam no vídeo, não
é Luciano do Valle que está narrando a Indy 500, mas sim Téo José. A Band
perdera, naquele ano, os direitos da Indy, e a Manchete comprou-os, exibindo a
categoria até 1995, quando ela passaria para o SBT. E sim, o comentarista da
transmissão é Rubens Barrichello, que fazia sua estreia na categoria europeia pela Jordan e, por conta de uma folga de
calendário, foi convidado para participar da transmissão. Mal imaginaria ele
que, 19 anos depois, teria a honra de participar como piloto deste espetáculo.
Assim encerramos este capítulo de hoje. Mas o próximo será
bem especial. Confiram!
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