Um dos títulos mais subestimados desse século completa dez anos em 2014. Tony Kanaan, no dia 3 de outubro de 2004, se sagrava campeão da IRL Indycar Series, o último título brasileiro em categoria top de monopostos.

Kanaan vencendo em Nashville.
A IRL vivia seu último ano da sua segunda fase, onde a categoria vinha crescendo com a debandada de um monte de gente da CART/Champ Car mas ainda preservava muito da sua fase inicial (apenas corridas em ovais, muito nacionalismo e afins).

Naquele ano tanto a Dallara como a Honda acertaram a mão no seu produto, deixando pra trás as concorrentes (a G-Force no caso da Dallara e a Toyota no caso da Honda, já que praticamente ninguém ligava para a Chevy) e, por coincidência, a única equipe que recebia os produtos dessas duas fabricantes era a Andretti Green Racing.  

Tony Kanaan, Dan Wheldon (RIP) e Dário Franchitti acumulavam metade das vitórias do ano, graças ao conjunto Dallara-Honda que era superior aos demais na maioria dos ovais. Apenas nos circuitos ultra-rápidos que os chassis G-Force sobrepujavam os Dallara, e com isso Buddy Rice e Adrian Fernández (que andavam com G-Force-Honda) também brilharam no campeonato.

Pessoal que mandava em 2004
A Penske e a Ganasi, que apostavam nos Toyota, tiveram um campeonato bem abaixo do seu padrão. A Penske conseguiu apenas duas vitórias, uma com Hélio e outra com Sam Hornish Jr, e o brasileiro foi o único das duas equipes a completar o campeonato entre os cinco primeiros, graças a sua incrível regularidade. Sam Hornish, mesmo ganhando uma prova, terminou o campeonato em sétimo; enquanto a Ganassi teve seus pilotos na décima e décima primeira posições, com o único pódio conquistado pelo campeão de 2003 Scott Dixon em Phoenix.

Com a disputa do campeonato restrita as Andretti e a Buddy Rice (da Rahal Letterman) e Adrian Fernandez (da Aguri-Fernandez Racing), e com o regulamento da Indycar privilegiando os resultados mais constantes,a briga rela pelo título ficou basicamente entre o bom baiano Tony Kanan e Dan Wheldon, com o brasileiro levando a melhor.
Fernandez e Rice bem que tentaram.
Tony e Wheldon vinham muito próximos no campeonato até a primeira corrida no Texas, quando Tony venceu e Dan abandonou com problemas no câmbio (porque sim, carros da Indy trocam marchas e quebram). Tony conseguiu maior folga ainda na primeira metade do campeonato, quando venceu em Nashville (com Wheldon chegando em 13º) e terminou na quarta posição em Milwaukee (enquanto Wheldon abandonava com problemas mecânicos).

Nesse ponto, o brasileiro já tinha 90 pontos de vantagem para Wheldon, e o segundo colocado no campeonato era Buddy Rice, o campeão das 450 500 Milhas de 2004. No fim, bastava largar as duas últimas provas do ano para ser campeão, num campeonato muito regular do brasileiro. em todas as corridas ele chegou entre os dez primeiros, e completou todas as voltas do campeonato (última veaz fora de Rex Mays, em 1941).

Não descreverei a prova para vocês porque, afinal, isso é uma videoteca e essa postagem deve estar cheia de vídeos. Abaixo tem  algumass dessas provas que consegui embedar na postagem. Nesse link você pode assistir todas as corridas que o youtube tem em upload, reunidas em uma playlist. Vamos aproveitar as férias e ver umas provas da IRL em um dos seus anos de auge.

Phoenix - Copper World Indy 200 at Phoenix
O primeiro vídeo é de Phoenix, porque muita gente gosta dessa pista (por algum motivo) e também esse é o único vídeo com uma vitória do Tony Kannan. A transmissão da ABC começa na volta dez porque alguma coisa na transmissão anterior atrasou, a imagem não é das melhores e a corrida não foi lá tão animada, mas tem Paul Page. TK liderou a maior parte da prova, só não liderou quando fez sua primeira parada e lacrou total nessa prova, diferente de suas outras duas vitórias, em Nashville e na primeira corrida do Texas.

INDY 500

As seis horas de Indianápolis. O qualify foi bem parecido com os de hoje em dia, quando os 33 carros que largaram foram os mesmos que tentaram largar; a pelo ficou com Buddy Rice, com Franchitti e Wheldon largando a seu lado. No primeiro vídeo é possível ver apenas 29 voltas de prova, já que a chuva chegou e a prova parou, mas dá tempo de AJ Foyt IV fazer o que ele faz de melhor: bater.

No segundo vídeo tem a segunda parte da prova, onde está a maior parte da corrida. Quase duas horas depois tem a relargada, já sem Robby Gordon por que ele foi correr na Coca 600, e Jacques Lazier assumiu o volante do carro #70 da Robby Gordon Motorsports. Dan Wheldon continuava liderando a prova até o Buddy Rice conseguir... bem, não vou dar mais spoilers (de uma corrida de dez anos que todos podem saber o que aconteceu lendo o artigo da Wikipedia), só posso dizer que a prova acabou também com chuva na volta 180, pois começou a se formar um Tornado na região, coisa leve...

Richmond - SunTrust Indy Challenge
Tear it up! (5x) Tear it up all night! Pra mim, foi a melhor corrida daquele ano; mas isso não é muito válido pois amo Richmond e essa foi uma das melhores corridas lá em todos os tempos da Indy. Você percebe que é  velho esse campeonato quando ainda tem propagandas de baseball, parecendo que é um esporte relevante. 

A corrida não teve um monte de trocas de posições (afinal, é Richmod), mas a estratégia de combustível que mudava em praticamente todas as sete longuíssimas bandeiras amarelas, e os pilotos forçando a ultrapassagem uma dúzia de vezes antes de finalmente consegui-la. No fim, Wheldon venceu mesmo largando da penúltima fila, devido a uma estratégia de paradas perfeita nas duas últimas sessões.

Chicagoland - Delphi Indy 300

Aqui que as viúvas da IRL piram. Dois e três carros lado a lado o tempo todo, alguns acidentes com bandeiras amarelas longuíssimas e um monte de trocas de liderança (até Felipe Giaffone e Kosuke Matsuura lideraram algumas voltinhas), com chegada razoavelmente apertada e pilotos irrelevantes (como AJ Foyt IV e Mark Taylor) criando inimizades. Após uma briga com Bryan Herta e o virtual campeão Tony Kanaan, Adrian Fernandez venceu aprova com o seu G-Force.  Nessa prova o bom baiano já praticamente assegurava o título, bastando largar nas próximas provas para ser campeão.

Fontana - Toyota Indy 400
Tony largou essa prova e se sagrou campeão. Fontana é outra que bate fundo no coração dos IRListas, ao contrário de hoje com esse carro de superspeedway que mal deixa um piloto ficar lado a lado com o outro. Essa prova foi diferente pois tivemos quase 160 voltas em bandeira verde (da volta 14 até a 170 e alguma coisa, mais ou menos), compensada por quatro bandeiras amarelas seguidas, e Mark Taylor liderou suas únicas voltas na carreira da Indycar quando todos pararam na primeira bandeira amarela e ele não.  Nas 30 voltas finais, Hélio Castroneves e Sam Hornish Jr., que vinham bem na prova, perderam rendimento e o final da prova foi um duelo entre o campeão Tony Kanaan e o mexicano Adrian Fernandez, domínio da Honda na corrida patrocinada pela Toyota.

Texas 2 - IRL Chevy 500

Para o regozijo final dos ovalistas, temos os 500k dos Texas. Foi uma prova típica do Texas de antigamente, e os Penske estavam muito bem nessa prova; Sam Hornish e Hélio Castroneves brigavam bastante com Fernandez, os carros da Andretti e Vitor Meira pela ponta. No fim, após Hornish ter problemas em seu carro, Hélio conseguiu assumir a ponta na batalha com os carros da Andretti e vencer sua única prova do ano.


No fim, foi um ano muito bom para a IRL (para quem gosta do estilo) e, se eu gostasse da categoria na época, teria me divertido muito vendo (repara nesse combo de verbos) essa temporada. Infelizmente, ela sempre cai no ostracismo pois, enquanto isso, a CART estava ruindo e a Champ Car nascia com o propósito de ser diametralmente oposta a esta que expus. 

Mas, apesar de tudo, um brasileiro a ganhou, e este é o último título brasileiro em monopostos de relevância e deveríamos celebrar mais esse fato. Num país que sempre se gaba de ser extremamente ufanista, relevar uma temporada como a de 2004 da IRL é algo que me causa um misto de estranheza e tristeza pois, apesar, dos pesares, Tony Kanaan é uma ótima pessoa pública e um ótimo piloto, com um dos seus pontos mais altos da carreira simplesmente esquecido por todos.

Parabéns TK pelos dez anos do seu primeiro título da Indy!

Um comentário: