Andretti, Ganassi e Penske se uniram em uma disputa para garantir vagas aos principais times da IndyCar em detrimento do Bump Day |
No ano de 1994 as milhares de pessoas que se espremiam no Indianapolis Motor Speedway presenciaram a monstruosidade do maior motor que o automobilismo americano já foi capaz de produzir (o fantástico Mercedes 500i). Naquela ocasião, a vitória de Al Unser Jr consagrou pela décima vez a soberania de um senhor grisalho que é considerado o maior chefe de equipe da história da Indy. Claro que se trata de Roger Penske, e que atualmente é o maior vencedor da Indy 500 com 17 triunfos.
O que poucos (ou mesmo ninguém) consideravam capaz de acontecer foi a imensa derrocada da equipe Penske na edição seguinte em 1995 onde nenhum (repetindo, nenhum) carro da Penske se classificou para a prova. As consequências da não participação da Penske em 1995 foram nefastas para a equipe? De maneira nenhuma! Apesar da ausência de Al Unser Jr ter impactado diretamente na perda do título naquela temporada. A equipe não perdeu dinheiro ao ponto de falir, o patrocinador não fez nenhum movimento para sair da categoria e nada que fosse trazer algum prejuízo mais forte ao time.
Al Unser Jr no ano que a Penske ficou fora das 500 milhas |
A polêmica regra 25/8 da cisão
Em 1996 com a segunda cisão da Indy, os chefes de equipe mais poderosos e influentes fizeram um imenso barulho para participar da Indy 500 quando protestaram contra a regra 25/8 (que reservava 25 vagas aos times da IRL e 8 vagas para qualquer pistoleiro que se dispusesse a tentar participar da corrida).
Foi um grande rebuliço que no final das contas não fez nada e todos traíram Tony George ao boicotar a prova e fazer uma corrida rival no mesmo dia e horário. Por ironia do destino, o desastre que tanto previram para Indianapolis aconteceu na prova separatista. Um Big One causado por Jimmy Vasser na largada. Uma das maiores vergonhas da história da Indy.
O infame Big One da US 500 |
A mal falada regra 25/8 que causou tanta polêmica em 1996 foi sepultada quando os times resolveram parar com o boicote e conseguiram um acordo para disputar a Indy 500 de verdade. Obviamente que por razões econômicas, todos engoliram o ego e o orgulho em nome de uma renda importante que entraria nos cofres já fragilizados na época. Porém, nos dias de hoje, o que esses poderosos não enxergam é que há automobilismo. E outros pares estão disputando a mesma corrida junto com eles.
A falácia sobre o Bump Day
A Indy 500 não se resume aos obesos, Michael Andretti, Roger Penske e Chip Ganassi, que não conseguem enxergar para além do próprio umbigo. As tradições centenárias da corrida são muito maiores que qualquer equipe, carro ou piloto. E o que torna a Indy 500 tão imprevisível e emocionante é o fato de que tudo pode acontecer.
O risco de ser eliminado antes mesmo da prova acontecer sempre existiu e nunca afligiu ninguém. E mesmo quando os maiores times foram atingidos pelo Bump Day, sempre deram a volta por cima. Alguns de forma digna e outros de forma não tão digna assim.
"A DHL provavelmente não estaria no esporte hoje. É por isso que é importante! Eu sei que Jay (Frye) é realmente a favor disso também. Nós ainda temos que trabalhar com Mark (Miles). Ele é quem ainda quer manter isso do jeito que está." - Michael Andretti
"A DHL provavelmente não estaria no esporte hoje. É por isso que é importante! Eu sei que Jay (Frye) é realmente a favor disso também. Nós ainda temos que trabalhar com Mark (Miles). Ele é quem ainda quer manter isso do jeito que está." - Michael Andretti
Se o leitor recordar o ano de 2011, quando Ryan Hunter-Reay falhou em se classificar na Indy 500. Michael Andretti tomou uma das atitudes mais indignas da história. Comprou a vaga de Bruno Junqueira na equipe de AJ Foyt e mostrou ao mundo o quanto o poder financeiro é capaz de prevalecer em relação ao esporte puro e competitivo.
Ryan Hunter-Reay com a bela pintura da AJ Foyt/Andretti que surgiu após comprarem a vaga de Bruno Junqueira |
"Não restam mais tradições em Indy. Adivinha? Uma regra 25/8 atualmente na Indy faz todo o sentido seguir em frente." - Robin Miller
Se você reparar nos anos 90 eles foram totalmente contrários a regra 25/8. Agora querem retirar as vagas de quem não participa do campeonato inteiro. Um imenso contra senso dentro de um discurso paradoxal. O pior é que um dos principais veículos que cobrem a Indy nos Estados Unidos está dando apoio a causa dos 3 grandes.
Não passa de uma falácia esse discurso conveniente que não cola. Quando James Hinchcliffe foi bumpeado na edição do ano passado, não só ele não comprou nenhuma vaga, como a Arrow aumentou consideravelmente seu apoio financeiro para garantir que isso não aconteça novamente. Em outras palavras, os principais donos de equipe na Indy estão querendo justificar a própria incompetência para garantir que eles se protejam dela.
Se você reparar nos anos 90 eles foram totalmente contrários a regra 25/8. Agora querem retirar as vagas de quem não participa do campeonato inteiro. Um imenso contra senso dentro de um discurso paradoxal. O pior é que um dos principais veículos que cobrem a Indy nos Estados Unidos está dando apoio a causa dos 3 grandes.
Não passa de uma falácia esse discurso conveniente que não cola. Quando James Hinchcliffe foi bumpeado na edição do ano passado, não só ele não comprou nenhuma vaga, como a Arrow aumentou consideravelmente seu apoio financeiro para garantir que isso não aconteça novamente. Em outras palavras, os principais donos de equipe na Indy estão querendo justificar a própria incompetência para garantir que eles se protejam dela.
"Eu falo com Jay sobre isso frequentemente, inclusive (quarta-feira)", disse Miles ao IndyStar na quinta-feira. "Eu acho que estamos muito alinhados." - Mark Miles
"Com a contribuição do nosso paddock e parceiro de radiodifusão da NBC, nós trabalhamos diligentemente no formato deste ano e estamos animados para ver como tudo isso se desenrola." - Jay Frye
A própria Indy fala que nada mudará porque as alterações no formato de disputa desse ano já foram feitas pensando nessa possibilidade. Logicamente que nada muda agora porque em 2019 a corrida acontecerá em algumas semanas, mas em 2020 ninguém crava com certeza que o regulamento será o mesmo.
A balança vai pender só para um lado mesmo?
Evidentemente que o desejo de 3 não pode ser superior ao que o público vê como correto. A Indy já sofre muito com opiniões divergentes disputando o poder a décadas. Analisando esses fatores, Chip Ganassi começou a recuar e enfraquecer o movimento. Mas a semente para um rompimento no futuro foi plantada. Qualquer faísca agora pode virar motivo para uma nova cisão.
Depois de anos trabalhando no vermelho, a Indy voltou a dar lucro. Para comemorar este fato, o CEO Mark Miles costurou um dos piores contratos televisivos de todos os tempos para a categoria. Escondeu a transmissão dentro do território americano e mais ainda para o resto do mundo. Como reflexo disso, equipes pequenas, por exemplo a Juncos, estão tendo enormes dificuldades para conquistar patrocinadores e participar da temporada toda.
Juncos Racing é uma das equipes que seria extremamente prejudicada com a regra de bloquear entradas para os principais times |
É justo e correto que esses times que já estão sendo prejudicados ainda paguem o pato pelo desejo de 3 equipes? Quem tem dificuldade para buscar apoio é a Juncos. Se a Penske perder seu patrocinador ela pode conseguir outro sem problemas. Se fosse difícil para a Penske, não haveria revezamento de pinturas nos carros da equipe. Por que então quem vai ser prejudicada é a Juncos e não a Penske? Uma demonstração clara de que a balança pende só para um lado e não para o outro.
A Indy se fechando em uma bolha
A impressão que passa é de que os donos de equipe não lembram que a CART faliu por causa da desigualdade financeira, os custos elevados, a soberba e a mania de grandeza deles próprios. E o principal legado dos anos de IRL foi de que a igualdade e os baixos custos é que farão da Indy uma categoria mais forte e competitiva. Outro legado que ficou foi o de Randy Bernard, que formou uma relação onde o fã vale para Indy mais do que qualquer coisa e o espetáculo é feito para o fã se divertir e dar retorno para a própria Indy.
É totalmente incoerente o fato da categoria se preocupar mais em se fechar em uma redoma para poucos. E agora os donos de equipe e a própria direção do certame estão negligenciando o fã como se ele fosse apenas um número, uma estatística. Onde faltam totalmente com respeito com quem de fato mantém essa organização viva e faz com que a Indy 500 seja a corrida mais importante do planeta.
O público que acompanha a Indy é a principal vítima de todas as trapalhadas que estão acontecendo em 2019 |
Se a Indy quer voltar a ser grande ela deve começar revisitando a sua própria história para não repetir os erros que a deixaram do jeito que está hoje. Mas, ela deve olhar para os acertos que a fizeram ser o campeonato mais competitivo do mundo do automobilismo.
Penso igual ao autor. Parabéns. Acho que o Milles já passou do prazo de validade. A categoria precisa se expandir,e eu creio que esse cara atrapalha tudo.
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